quinta-feira, 4 de maio de 2017

BNDES cria fundo de R$ 500 mi com foco em energia renovável

Os títulos verdes entraram no radar do mercado local de renda fixa diante do crescimento do instrumento no exterior. A CPFL Renováveis teve a primeira debênture certificada internacionalmente e o BNDES, em parceria com a Vinci Partners, prepara um fundo de R$ 500 milhões para investir em projetos de energia sustentável. Lá fora, o estoque dos "green bonds" dobrou nos últimos 15 meses e representa mais de US$ 200 bilhões.

Apesar de não trazer diferença em termos de retorno ("yield"), para o emissor, a oferta desse instrumento de dívida é uma oportunidade para diversificar a base de investidores, ampliando as fontes de recursos. É com isso em mente que o BNDES resolveu criar o fundo.

André Salcedo, da área de mercado de capitais do BNDES, explica que a instituição já vinha fazendo investimentos em debêntures de infraestrutura de projetos de energia e observava pouca disposição do investidor para financiar obras no longo prazo.


Dependente do investidor pessoa física, que tem isenção de Imposto de Renda em debêntures de infraestrutura, esse mercado enfrenta restrições para o crescimento por conta do apetite desses investidores. O estoque desse segmento soma cerca de R$ 6,2 bilhões. "O que mais temos visto são projetos de energia e parques eólicos, vinculados a emissões pequenas. Elas têm maior dificuldade de colocação porque o investidor não quer ter uma fatia grande de uma emissão só, porque o próprio segmento não é muito conhecido e tem mais riscos do que outras áreas como transmissão", explica.

Disso surgiu a ideia de transformar os papéis de dívida em "green bonds", com certificação internacional, e criar um fundo para fomentá-los. De um lado, o banco começou a procurar um parceiro para atuar junto no fundo, o que resultou na escolha da Vinci Partners. Do outro, iniciou conversas com companhias para mostrar o benefício da certificação das emissões. A iniciativa é feita em parceria com a Climate Bonds Initiative, empresa que emite os selos.

"O fundo é simples, o BNDES vai ter participação de até 50% e o restante será captado pela Vinci com investidores institucionais. O primeiro benefício é acessar uma base de investidores mais ampla. Com isso, é possível que gradualmente vejamos redução nos spreads com a maior concorrência para comprar os papéis", afirma Marcello Almeida, sócio da Vinci.

Nessa linha, a CPFL Renováveis obteve a certificação internacional de uma emissão de debêntures no valor de R$ 200 milhões que já estava no mercado. É a primeira debênture a obter o selo internacional. Até então, só bônus emitidos por empresas no exterior conseguiram o selo, como é o caso da BRF e da Suzano Os recursos levantados pela CPFL serão utilizados para a construção dos projetos eólicos Campos dos Ventos e São Benedito no Rio Grande do Norte. Essa debênture, no entanto, não poderá ser comprada pelo fundo do BNDES por não ser de infraestrutura, seguindo a lei 12.431.

Linda Murasawa, superintendente-executiva de desenvolvimento sustentável do Santander, confirma que no mercado internacional não existe diferença de yield, mas que outro benefício importante é a agilidade na colocação dos papéis dado o bolso maior de dinheiro. "Os green bonds têm sido mais eficientes, com a venda feita em horas", disse. Ela explica que o principal motivo é a escassez de projetos sustentáveis.

Diante do tamanho da indústria de renda fixa global, o ramo ainda é pequeno, mas o que chama atenção é a taxa de crescimento. O mercado global ultrapassou US$ 200 bilhões em estoque no primeiro trimestre deste ano, consequência dos US$ 92 bilhões emitidos no ano passado e dos US$ 19 bilhões vendidos só nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, segundo o Bank of America Merrill Lynch (BofA). Desde janeiro de 2016, oito países e cerca de 150 novos emissores entraram no mercado. A China ofertou US$ 30 bilhões em 2016 e assumiu o posto de maior emissor. O banco americano projeta emissão de US$ 90 bilhões a US$ 130 bilhões em 2017 no cenário base, podendo chegar a US$ 150 no caso mais otimista.

O BNP Paribas prepara o lançamento para julho, na Europa, do seu primeiro fundo dedicado a esse instrumento, tendo já captado € 120 milhões, mas sem limite para o teto de recursos. Os investidores buscam yield, explica Felipe Gordillo, executivos de investimentos sustentáveis do BNP, mas só com esse instrumento encontra-se um caminho de transição para a economia de baixo carbono.

"Na França, como resultado da lei de transição energética, os investidores profissionais precisam informar como as empresas estão incorporando o critério de energia limpa em seus investimentos e como apoiam a questão da mudança do clima. Uma maneira de provar isso é mostrar que estão comprando cotas de um fundo dedicado [ao segmento]", diz Gordillo, do BNP.

Até agora, os especialistas não veem grande impacto do governo de Donald Trump nesse mercado, uma vez que a maior parte das emissões desses não tem saído dos Estados Unidos.

Fonte: Valor Econômico

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