As transmissoras de energia, empresas menos castigadas pela crise hídrica que vem derrubando as finanças do setor, enfrentam uma limitação do potencial de crescimento devido às condições ruins oferecidas pelo governo nos últimos leilões, que não tiveram demanda suficiente.
Sem um aumento das taxas de retorno, a expectativa é que os próximos leilões de transmissão continuem sem interessados para todos os lotes ofertados.
“Os investidores trabalham com riscos gerenciáveis e a taxa de retorno é também uma das questões levadas em consideração”, afirmou Mario Dias Miranda, presidente da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate), que tem como associadas as principais empresas de transmissão do país, como Cteep, Cemig GT, Furnas e Eletronorte. Segundo Miranda, as condições econômicas dos últimos dois leilões não eram satisfatórias, o que resultou na falta de interesse das empresas em participarem.
Para Silvio Areco, da consultoria Andrade & Canellas Energia, com o baixo retorno ofertado, os investidores não se sentiram atraídos pelas propostas, “causando impacto em uma expansão que deveria ser viabilizada”. Além da Receita Anual Permitida (RAP) máxima ofertada, os prazos determinados pela Aneel também são um empecilho, já que as empresas precisam de aprovações ambientais e desapropriações para construir os linhões, afirma o consultor.
A participação das transmissoras nos leilões também é limitada pelas incertezas relacionadas às mudanças desencadeadas pela Medida Provisória (MP) 579, aponta Karina Freitas, analista da Concórdia. Esse é o caso da Cteep, que já afirmou que não vai se comprometer com novas concessões enquanto não souber quanto vai receber referente à indenização de ativos regulatórios que não foram considerados pela Aneel na renovação das concessões.
“Há uma junção de fatores que deixa as empresas mais cautelosas. Uma sinalização da agência regulatória de mais flexibilidade possibilitando maior retorno com uma clareza maior para a questão das indenizações pode contribuir para que os leilões destravem”, afirma Karina.
O leilão de transmissão que aconteceu em 18 de novembro terminou sem ofertas em cinco dos nove lotes em disputa. Na ocasião, José Jurhosa, diretor da Aneel, afirmou que esses lotes devem ser oferecidos de novo em 2015.
Na disputa de maio, dos 13 lotes, cinco não receberam oferta. Na ocasião, diretores da Aneel chegaram a dizer que isso representava um sinal de mercado que seria analisado pela agência, a fim de tornar os lotes mais atrativos.
Está marcado para 19 de dezembro o último certame de transmissão do ano. Segundo Areco, se as condições não melhorarem para compensar os riscos enfrentados pelas empresas, a mesma escassez de ofertas dos leilões anteriores pode se repetir.
Essa falta de interesse da participação de uma concessão que não oferece retornos atrativos é negativa do ponto de vista do crescimento das empresas, mas mostra que elas têm um perfil conservador, avalia um analista que prefere não ser identificado.
Sem participar de leilões, a única possibilidade de expansão da receita dessas companhias é por meio de fusões e aquisições, aponta o analista. A exceção é a Eletrobras, que participa de todos os leilões de transmissão, “vista como uma empresa que aceita retornos questionáveis”.
A Eletrobras, por meio da sua subsidiária Eletrosul, ficou com dois lotes do último leilão, que somam investimentos da ordem de R$ 3,2 bilhões. A estatal ficou de fora do grupo de vencedores do leilão de maio, mas conseguiu uma fatia de 49% no leilão do primeiro bipolo de transmissão de Belo Monte. Nessa disputa, que aconteceu em 7 de fevereiro, venceu o consórcio formado pela chinesa State Grid (51%), Furnas (24,5%) e Eletronorte (24,5%).
Fonte: Valor Econômico
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